A mulher e sua xícara de chá

Colunistas Geral

Algo que foi aprendido e, no caminhar da vida, já esquecido era o hábito de tomar um bom chá. Tereza preparava seu chá, servia numa xícara, sentava em sua sala em sua casa e esquecia do mundo folheando algum jornal da semana ou revista que comprara na Banca do Seu José. Ali ficava por quase uma hora, celular desligado, silêncio total naquela casa, só interrompido por Mia e Sebastião, os gatos que queriam atenção de sua dona.
Um certo dia, a amiga desavisada Lúcia insiste em apertar a campainha e nada de atender, quase desistindo e já havia gastado suas mensagens e ligações sem respostas. Achava que teria acontecido algo a Tereza, luzes acesas e o carro dela estava na garagem.
E depois de um tempo, ela abre a porta. E logo Lúcia pergunta: – Tu estás bem? Vim organizar nossa reunião de assistência à Fernanda, a Marta irão participar desta vez. Quase morri de susto! Porque tu não atendias à porta, achei que algo pior tivesse acontecido.
E, calmamente, Tereza responde: – É a hora do meu chá semanal. Pode cair o mundo, coloco meus fones de ouvido com uma música serena e desligo de tudo. Só ouvi a campainha porque era intervalo de uma das minhas músicas. Desta vez, tu deu sorte!
Lúcia entra, olha na sala, a televisão desligada, os jornais e algumas revistas no sofá. Em destaque, um bule de chá e uma xícara bem na frente da poltrona. Ela ficou aliviada que a amiga estava bem, somente achou estranho aquele hábito de isolamento do mundo.
Foi para sua vida, cheia de agitação e preocupações. E, observando que Tereza tinha atribulações quase idênticas às suas, a via de forma diferenciada, cada vez mais serena e centrada, numa áurea de paz. Sem querer imitar a amiga, foi sincera consigo e criou seu próprio hábito de relaxamento. Ao invés de chá, sua melhor companhia era uma taça de vinho, seguido por uma leitura de um bom livro, que lia cerca de vinte páginas, o tempo que durava os goles da bebida.
ou o tempo, tiveram que se reencontrar em meio às conversas. Lúcia revela a Tereza: – Sabe aquele dia que fiquei em pânico e no fundo somente era tua hora do chá?
Tereza responde: – Sim!
Lúcia: – Pois é, agora criei minha forma de relaxamento.
E ela pergunta: – Qual é, Lúcia?
Ela responde: – A da taça de vinho!
Só que Tereza ainda revela algo à amiga: – Sabe, Lúcia, o hábito de tomar chá herdei da minha avó Maria.
E Lúcia responde: – Tereza, meu hábito de tomar uma taça de vinho herdei da minha vó Antônia.
E Tereza arremata a conversa: – Então nossas avós eram muito sábias e nos deixaram bons hábitos!
E as duas riram da situação, como se não importasse o líquido. O certo é que duas mulheres acharam um tempo extremamente valioso para cuidarem de si, com simples leituras, uma xícara de chá e outra com uma taça de vinho, valorizando os momentos de paz que estavam se dando.

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