Silvia vivia de forma tranquila, bem simples, tudo era organizado no seu dia a dia.
Havia casado cedo, com vinte anos, tinha dois filhos que agora estavam formados, um em istração e outro em enfermagem. Seu marido e ela já estavam aposentados, fazem mais viagens. Numa revisão de costume, estava sentindo muitas dores no peito, sem explicação lógica para isso, o médico pediu que ela repetisse um exame, só por precaução. Ela, confiante, sem achar que seria algo sério, refez e infelizmente as notícias não foram boas, estava com uma doença crônica no coração, que iria mudar seus hábitos e ter que se readaptar com uso de medicamentos.
Aquilo mudou seu semblante e forma de levar sua vida, tanto com o marido quanto com os filhos. Estava mais preocupada, muito entristecida, mudou toda sua rotina, o médico apenas disse que deveria ter mais cuidado e obedecer ao tratamento, embora para o problema que tinha seria crônico e isso tirou toda a estrutura de Silvia.
Conhecida por ser uma mulher radiante onde chegava, sempre alegre, positiva e bem com a vida, no seu presente estava tudo mudado, refletindo no seu semblante e forma de levar sua vida, tanto com o marido e os filhos.
Num dia comum, uma amiga que não via há anos a convida para um chá e ela reticente aceita o convite, vai sem muita vontade de sair de casa, chega Laura com astral bom, cheia de vida, contando suas viagens, como estavam seus filhos, como encarava a relação com o ex-marido e a pergunta sem muito rodeios: – Silvia, desculpe a sinceridade tu está muito triste, nem parece a mulher que sempre convivi alegre, de bem com a vida. O que está acontecendo? E ela começa a chorar e, quando vê, desabafa para a amiga tudo que estava sentindo sobre seu diagnóstico, a insegurança com o futuro, o marido e os filhos e com sua própria vida.
Esperando ter uma acolhida, tipo um ar de mão em sua cabeça, a amiga responde sem rodeios: – Tu estás sendo covarde! Nada vai te ajudar a ar essa fase ruim se ficar cada vez mais para baixo. Tu tem apoio do teu marido e filhos que te amam, alguns amigos muito fiéis e não é hora de tu abaixar sua cabeça para isso. Vai ar, confia Silvia! E aquilo parece que mexeu internamente com ela, chegou em casa com outro olhar.
Pensando o quanto deveria agradecer cada minuto de vida, a presença dos filhos e do marido e claro cuidar da sua saúde junto. Foram dias complicados, adaptação à medicação que fazia ela se sentir mais lenta que costume, mas incluiu coisas que seu médico recomendou e não estava fazendo, umas atividades físicas, mudar seus hábitos alimentares, rever a questão dos horários de sono.
E, embora voltando na consulta ainda muito preocupada, estava mais confiante frente ao médico, que realizou uma nova bateria de exames e voltou para ver seu diagnóstico, o marido foi junto e ela mais consciente o ouviu dizer:
– Olha, Silvia, teu problema não sumiu, mas está sob controle, muito melhor de quanto chegou aqui. Seguindo seu tratamento à risca, tu podes levar uma vida normal, só com algumas restrições.
E aquilo parecia uma quebra de correntes que a impedia de sorrir novamente, se alegrar de coração com a vida. ado algum tempo depois disso e sempre cumprindo o tratamento e os retornos ao médico, ela volta a conversar com Laura. Que logo chega na casa de chás ela já diz: – Tu estás tão bonita, radiante, nem vou perguntar muito, mas vejo que está curada e digo da tua alma, não é isso?
E ela responde: – Ah, Laura, não tenho palavras para te agradecer. Aquele diagnóstico inicial me fez um buraco que estava me enterrando viva. E tu me fez acordar para defender a minha própria vida. Estou outra mulher, me cuidando, mas feliz a cada dia de vida que tenho com minha família, meus afazeres e tudo que me proporcionou no sentido de fazer valer a pena cada minuto. O dia em que renasci foi saindo do médico, nunca tinha reparado tão bem no céu azul intenso, cheio de nuvens brancas. Aqueles raios de sol me aqueciam e ali acho que comecei meu caminho da cura e foi da minha alma mesmo.
As amigas riram, falaram também dos problemas do dia a dia que a tarde rendeu, se despediram alegres e fortalecidas. Saindo dali, Silvia olha para o céu um azul intenso, agradece pela dádiva da vida, entra no seu carro, liga uma música, chega em casa, faz uma comida para esperar o marido, combina um almoço com os filhos no final de semana. Quem ava na rua via uma casa novamente iluminada, o cheiro de comida sendo feita. Aquele diagnóstico que trouxe escuridão se dissipou e a luz voltou a morar dentro daquela família. Silvia agora sabia de fato valorizar a vida em sua plenitude.